Ontem tudo corria como habitualmente, não muito bem, é certo, mas havia uma dinâmica de lenta recuperação, ou talvez de lenta agonia até à bancarrota. Seja como for, o que me traz aqui a escrever esta posta, é a revelação pessoal de que um País afinal já há muito que não o é. Um País é afinal de contas uma gigantesca empresa. Nós não controlamos nada no nosso País; a ideia de que tal acontece é pura ilusão. Quem nos controla são os accionistas do País, leia-se, os credores. Ontem, dizia, tudo corria como seria expectável para um País na nossa posição; lutávamos pela sobrevivência. Hoje continuamos a lutar, até porque a esmagadora maioria da população não liga ao bulício das mercados financeiros; a diferença essencial é que parece que hoje já não faz diferença se lutamos ou não. Porquê? Porque uma empresa (standard & poor's) do outro lado do Atlântico comunicou ontem que Portugal já não vale hoje o que valia ontem. É o que eles fazem, avaliam coisas; neste caso países. E, como tal, um País em que nada mudou desde o momento A, prévio à comunicação, até ao momento B, posterior à comunicação, passa a valer menos. Aqui coloca-se a analogia entre esta situação e a questão clássica sobre o que apareceu primeiro: o ovo ou a galinha?; Portugal vale, de facto, menos hoje que ontem ou assim acontece porque uma empresa disse que assim é? Mexem com a vida de uma Nação de almas de uma penada e dormem descansados; é assim, é o que eles fazem.
De Cais das Colinas a 28 de Abril de 2010 às 15:51
A "empresa" não passou propriamente a valer menos.
Mas ao não fazer nada para resolver o seu problema é claro que aumentou o risco de agravar a sua situação.
Pensa assim:
Vais a conduzir o teu carro e acende-se a luz do óleo.
E tu não fazes nada.
No dia seguinte a luz do óleo continua acesa e tu continuas a ignorar o facto.
Passada uma semana. o carro até pode continuar a andar.
O carro não se desvalorizou.
Mas o risco de gripar o motor aumenta a cada km que fazes.
O problema não é o valor; o problema é o risco.
É evidente que as agências de rating, para além de analisarem o estado da economia dos países, obedecem a agendas que têm a ver com a especulação e com os maiores agentes do mercado.
É evidente que quando pagamos juros mais altos, alguém ganha com isso.
É evidente que somos um joguete nas mãos desses interesses muito mais poderosos do que nós.
Mas ainda assim nós sabíamos que eram essas as regras do jogo e andámos anos a viver num mundo de faz de conta.
Andámos anos ao sol sem protector a fazer de conta que não sabíamos que isso fazia mal à saúde.
Agora vieram dizer-nos que temos cancro na pele e ficamos escandalizados porque o "médico" que fez o diagnóstico é americano.
Acredita que mesmo que nos possamos queixar dos interesses particulares das agências de rating, esta indignação não vai resolver nada.
O "médico" até pode andar metido com as "farmacêuticas" mas o problema é que o diagnóstico está correcto.
Cavaco + Guterres + Durão + Sócrates = ISTO!
É claro; o meu post em nada se distancia do teu comentário ao dito. Apenas simplifiquei a questão, mas não deixo de concordar com tudo. Sublinho, provoca-me calafrios o poder destes senhores do rating, porque a questão é: mesmo que se tomem as devidas medidas e, consequentemente, como que por milagre, tudo ficasse bem, o que é facto é que se eles continuassem a achar o oposto de nada adiantaria a nossa recuperação.
De Cais das Colinas a 28 de Abril de 2010 às 18:27
Já por aqui abordámos o tema a propósito de um outro post.
Há anos que se fala da necessidade de se criar uma agência de rating que não esteja sediada nos EUA.
É evidente que se os grandes especuladores americanos tiverem interesse em desestabilizar a economia europeia têm nas 3 grandes agências de rating uma ferramenta bestial.
Mas à boa maneira europeia, fala-se na "urgência" de criar essa estrutura mas esperamos que a coisa apareça por milagre.
Ou será estamos à espera de que sejam os americanos a criar uma agência de rating em Londres ou em Frankfurt para defender os interesses da Europa?
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