Saí do escritório para comer qualquer coisa, era uma e picos. Dirijo-me ao Multibanco que existe em frente à Confeitaria Ferreira e deparo-me com uma cena surreal. Um homem fardado de PSP, dirigia-se a duas jovens aos berros, empurrando uma delas (com um terço do tamanho dele), e vociferando na direcção da outra: "... Mas tu pensas que estás a falar com quem? Olha que vais presa e depois explicas-te ao Juiz..." Em redor, para além do colega, mais calmo mas conivente com a atitude, juntavam-se pessoas a assistir à cena. As pessoas na confeitaria, as pessoas que aguardavam na estação de metro, que saiam do banco, da farmácia, ninguém se atreveu a dizer nada. Nem sequer se aproximavam, como é normal acontecer nestas situações. Era como se existisse uma barreira invisível. Não podia acreditar. Aceno negativamente com a cabeça e o exaltado agente repara. Fui então almoçar, na esperança de que a situação se resolvesse pelo melhor, com a ideia de depois chamar a atenção ao agente. Quando saí ambos os agentes se encontravam, praticamente, no mesmo sítio à conversa com um senhor da Prosegur, com ar de quem está de muito bom humor. Dirijo-me ao agente, já mais calmo, dizendo: - Boa tarde. Não podia deixar de vir aqui, uma vez que já não estão aqui as pessoas com quem estava a falar à pouco, dizer-lhe que achei lamentável a forma como procedeu. Não se fala assim às pessoas.
- Não estou a perceber... Não estou a perceber. - respondeu o agente.
- Não compreende o que lhe estou a dizer? - perguntei
- Não.
- Estou a dizer-lhe que acho lamentável a forma como o senhor se dirigiu àquelas pessoas. Não se fala assim às pessoas. - ao que o agente retorquiu
- Mas o senhor não assistiu nem a metade.
- Isso não me interessa, você não pode falar assim com as pessoas, perde a razão.
- Você sabe com quem está a falar? Está a falar com um agente da autoridade. - afirmou ele
- E? Estou a faltar-lhe ao respeito?
- Está!
Aceno negativamente e solto um : - Ahhhh. Isso é que não estou!
- Ah, então se é assim pode seguir o seu caminho. Eu não o chamei aqui e não lhe devo satisfações, nem falo com pessoas que não sei quem são.
- Eu não o chamei aqui?! Pode seguir o seu caminho?! Mas o que é isso? O meu nome é Francisco Lourido.
Entretanto o colega mete-se na conversa, para sossegar os ânimos, e o agente 'simpático' cala-se.
- Então mas ... - ele disse qualquer coisa mas eu já nem o ouvi - Oiça o seu colega procedeu mal, não se fala assim com as pessoas. E, o senhor foi conivente com ele. - silêncio - Acho lamentável. Acho lamentável. É vergonhoso. - e virei costas.
Ainda ouvi , em tom mais baixo só para nós os três ouvirmos, aquilo que penso ter sido um insulto à minha pessoa, mas não sei precisar qual. Custa-me ter que dar razão à Mó que se está sempre a referir às quesões de abuso de autoridade e eu tento que ela veja melhorias. Tenho que dar a mão à palmatória. Pensava que as coisas estavam em patamares mais civilizados. Estou a ponderar se vale a pena o trabalho que me vai dar, e o tempo que vou perder no processo, ao apresentar queixa.
É assim, mais um dia em Matosinhos city.