"- Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam reis e soberanos filósofos genuínos e capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a filosofia, enquanto as numerosas naturezas que actualmente seguem um destes caminhos com exclusão do outro não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá tréguas dos males, meu caro Gláucon, para as cidades, nem sequer, julgo eu, para o género humano (...)"
"- Além disso, é preciso ainda examinar o seguinte, se se quiser distinguir uma natureza filosófica da que não é.
- Examinar o quê?
- Que não tenha, sem que tu o saibas, qualquer baixeza; porquanto a mesquinhez é o que há de mais contrário a uma alma que pretende alcançar sempre a totalidade e a universalidade do divino e do humano.", excertos do diálogo entre Sócrates e Gláucon in "A República" de Platão.
Pois bem, acreditas tu, caro leitor, que este diálogo aconteceu por volta de 420 a.c., ou seja, há, sensivelmente, 2430 anos? Que parte é que eu perdi, que não sei o que aconteceu entretanto, pois volvidas essas duas dúzias de séculos, tudo permanece igual, exctamente igual, neste particular? Não aprendemos nada porquê? Que dizes?
É a minha decepção pessoal com o Sr. Presidente da República, após os acontecimentos das últimas semanas ou meses, que motiva este post e, de resto, é o impulso que faltava à criação deste, há muito adiado, blog. Não que gostasse particularmente da pessoa em causa e tivesse ficado mais decepcionado por isso. Não se trata disso. Acontece que a partir do momento em que é eleito, apesar de não o ter sido com o meu voto, aquela pessoa é o meu Presidente, e o meu Presidente não se pode comportar da forma como o tem feito. Não ponho aqui, sequer, em causa os factos que deram origem a toda esta história porque são, em si mesmos, irrelevantes, alguns deles até inexistentes ou virtuais, como quiserem. Aquilo que me faz escrever este post é o receio que terei, a partir deste momento, relativamente a tudo o que esta pessoa possa fazer. É que eu sou Republicano, e a principal vantagem da República, relativamente à Monarquia é, a meu ver, esta: podermos escolher o nosso mais alto representante para que não nos calhe em sorte alguém inepto para o cargo. Pois não foi isso que aconteceu desta vez. A pessoa que o Povo elegeu revelou-se inepta. Não soube ser aquilo para que foi eleito: o garante da estabilidade do País. Não soube gerir uma simples (sim, simples) situação política, colocando o seu ego antes do interesse nacional, e disse, na sua declaração, coisas que, se não sabe, deveria saber que não são verdade. Se assim foi nesta situação que fará em situações mais graves, sob maior pressão? Pois não é assim que idealizo o meu Presidente e isto não é uma Monarquia.
O Sr. Aníbal Cavaco Silva, deixou de merecer a minha confiança e, estivéssemos num País mais atento a estas questões, teria deixado de merecer a confiança dos Portugueses na sua generalidade. Assim, deixou de reunir, a meu ver, as condições necessárias para continuar a representar o meu País e o seu Povo, devendo retirar as necessárias ilações e renunciar. Poderá continuar a ser Presidente, não renunciando, mas já não será o meu Presidente. Isto não é uma Monarquia em que os egos valem mais que o superior interesse da Nação.
P.S.- Peço que me perdoem o estilo um pouco naif do post. Penso e prometo que tudo irei fazer para melhorar.